quarta-feira, 2 de março de 2011

Ilhabela: vereador que atacou mulher é considerado uma lástima

Vereador falou o que quis da tribuna, talvez levando ao pé da letra a sua condição de legislador e assim “poder falar protegido por sua inviolabilidade”. Não é bem assim. Vereadores são invioláveis por suas palavras, votos e opiniões dentro do território municipal. Mas não são invioláveis quando assacam calúnias, difamações ou injuriam alguém. A proteção legal recai sobre a matéria em discussão. Portanto, não podem querer estender o instituto constitucional para atingir pessoas alheias ao projeto em debate.

Bem, alguns vereadores são assim mesmo: sempre confundem as coisas. Por isso que são vereadores... Só que esse dito-cujo falou o que quis e agora tem de engolir o que a Vera Alvarenga Freire publicou no jornal CanalABERTO do última dia 25, na editoria Formadores de Opinião:

É a velha máxima: quem fala o que quer... Vejamos:

 “Senhora, vai pegar um tanque de roupa e vai lavar”

Lavar um tanque de roupas nunca foi encarado por nenhuma mulher como algo depreciativo na sociedade brasileira e tampouco em Ilhabela.

Mulheres ilhabelenses notáveis, muitas delas, viúvas, se tornaram empreendedoras de sucesso o que lhes permitiu criar e formar todos os filhos e de quebra, lavar belos tanques de roupa para atender as diferentes necessidades domésticas de suas respectivas famílias. Exemplos como o de dona Cristina, de dona Alice Ribeiro, de dona Eva Esperança e de tantas outras mulheres devem ser lembrados com reverência.

Outras eram desbravadoras como Alice Coelho que veio de São Paulo na década de 50, para estabelecer aqui o Maembi Hotel, que administrava sozinha, numa Ilhabela onde só se chegava por lanchas. E todos que a conheceram puderam testemunhar os inúmeros tanques de roupas que ela lavava em seu hotel para dar o conforto e a limpeza que seus hóspedes requeriam.


Foram tantas as desbravadoras e lutadoras como Biria, Cidoca, Izanil, Helena, dona Dedé França, dona Hilde do Hotel Mercedes, Carmem Barbosa - a nossa primeira vereadora mulher que, sem sombra de dúvida, abriu caminho para Nilce Signorini, Nanci Zanato, Dra. Rita e Gracinha que enobreceram a Câmara Municipal de Ilhabela com os seus conhecimentos e dedicação aos trabalhos que realizaram na comunidade de Ilhabela, além de tocarem as atividades domésticas demandadas por suas famílias que, certamente, incluíam sempre que necessário, a lavagem de um belo tanque de roupas sujas.

Vale lembrar ainda, somente para quem parece ter esquecido, que Ilhabela já teve uma prefeita mulher: Nilce Signorini cuja administração é lembrada com saudade por uma imensa fatia da sociedade desta cidade e é claro que durante o seu mandato exemplar ela também lavou algum tanque de roupas usadas e sujas.

Por isso, causa espanto, o posicionamento assumido pelo ilustre vereador Marinho, que em 3 de fevereiro de 2011, destilou todo o seu veneno contra uma mulher na tribuna da Câmara Municipal de Ilhabela, questionando seus comportamentos e escolhas pessoais e sugerindo a ela “Pegar um tanque de roupa e lavar”(sic).

O vereador não nomeou a senhora ou jovem a qual ofendeu, como deveria ter feito, para dar a ela o direito de defesa, mas questionou algumas de suas condutas ou escolhas pessoais, na visão dele desabonadoras, como tomar lanches de R$ 30,00 num “boteco de alta classe” (sic) e no Yacht Club, “comendo cascata de camarão e champanhe”(sic) enquanto fazia fofocas, entendidas aqui, como críticas referentes à implantação da zona azul na Vila;

Se refere ainda, a fofocas nas casas de meia dúzia de mulheres, manipuladas pelos respectivos maridos, que não fazem nada a não ser tricotar.

E, finalmente se perde, pois não há como identificar se o vereador se refere a homens ou mulheres pertencentes à sociedade civil organizada, que segundo ele têm a pretensão de se candidatar a um cargo eletivo no município, como se isto não estivesse aberto a todo e qualquer cidadão brasileiro, maior de 18 anos, pertencente ou não a uma ONG, Conselho ou organização da sociedade civil com interesse público. Por outro lado, ele menciona que se essa mulher ou esse homem, como membro de um Conselho ou da sociedade civil organizada até agora não fez nada, poderia se imaginar o que essa pessoa faria na Câmara.

E, aqui cabe uma pergunta: o que é que o vereador Marinho tem com isso? Desde quando as cidadãs ou cidadãos de Ilhabela precisam de autorização da Câmara ou dos vereadores para freqüentar uma lanchonete ou “boteco de alta classe”(sic) ou estar num clube da cidade “comendo cascata de camarão com champanhe”, fazendo tricô e mais nada, se candidatar a um cargo eletivo no município ou ainda, gastar a quantia que querem de suas economias pessoais e não do dinheiro público?

Cuidado, vereador, isto é cerceamento de liberdade e de escolhas (Constituição Federal,Cap I, Art 5º). O senhor deveria dar uma re-visitada a este artigo 5º, da Constituição Federal que trata dos direitos individuais e coletivos de todo e qualquer cidadão brasileiro, homens e mulheres.

Feio, muito feio e muito grave. A verborragia do vereador denota falta de equilíbrio, de jogo de cintura, de respeito às mulheres e à sociedade civil em geral, de educação, e até de conhecimento da nossa Carta Magna, além de discriminação de gênero que, como toda discriminação, é crime inafiançável.

Mais grave ainda, é que este jovem que se enaltece abundantemente em sua fala na tribuna e que pouco conhece a história das mulheres ilhabelenses é do PV, partido político que lançou como candidata à Presidência da República, a senadora Marina Silva, mulher vencedora, que já lavou também vários “tanques de roupas” em sua vida. E isto não a desqualifica, mas a enobrece ainda mais.

Logo a postura assumida pelo vereador Marinho só pode ser considerada uma vergonha e uma lástima para Ilhabela, para a Câmara Municipal como um todo e para o partido político ao qual é filiado.

Será que o moço esqueceu que recebeu votos de mulheres para chegar aonde chegou? Será que essas mulheres gostariam de ver o gênero feminino diretamente e unicamente vinculado a um tanque de roupas sujas, trabalho que deveriam dar conta simplesmente porque são mulheres? Será que Marina Silva sabe que existem machistas deste naipe nos quadros do PV? Será que o PV de Ilhabela tomou alguma providência em relação ao falastrão que tropeçou na língua?

Pois é, em pleno 2011 quando temos a primeira mulher, Dilma Roussef, na Presidência da República do país, llhabela se encontra na contramão da história, com a presença na Câmara Municipal de um vereador ET, retrógrado, mal informado e atrasado cabendo aqui colocar uma analogia à frase dita por ele:

Nós, cidadãos ilhabelenses, mulheres discriminadas e homens que condenam a discriminação de gênero efetivada na tribuna da Câmara Municipal de Ilhabela em 3 de fevereiro de 2011, podemos imaginar quais contribuições o vereador Marinho trará com seu mandato para Ilhabela...

Quem sabe, não seja o caso de sugerirmos, como ele o fez, que largue o que está fazendo e assuma uma tarefa eminentemente masculina, que seja exclusiva somente – redundância aqui necessária, dos homens....

Seria bom, mas ela não existe, uma vez que as mulheres estão em todos os lugares no mercado de trabalho: nas forças armadas, na construção civil, nas polícias civil e militar, nas montadoras e nas metalúrgicas, nos hospitais e nas escolas, no mercado financeiro, trabalhando com máquinas pesadas, etc, etc... e, também, nas ONGs, nas organizações sociais de interesse público e em vários Conselhos Setoriais de Políticas Públicas, onde desempenham tarefas importantes sem qualquer remuneração.

Apesar disso e de toda a modernidade, que parece estar passando longe deste arquipélago, ainda existe um trabalho que compete somente às mulheres que é o trabalho de parto que traz à luz e a este mundo milhares de indivíduos do sexo masculino, como é o caso do próprio vereador Marinho. Era bom que ele se lembrasse disto.

Este sim, é um trabalho exclusivamente feminino e que compete somente às mulheres e que o senhor ou nenhum outro homem será capaz de fazer e que foi conferido somente às mulheres não pelo senhor, nem pela sociedade e tão pouco pelo mercado de trabalho. Ele nos foi conferido pela natureza e, para aqueles que acreditam, por Deus.

Em vista do exposto, repudiamos a postura assumida pelo vereador Marinho e:

• sua imediata retratação na mesma tribuna da Câmara Municipal, onde todo o gênero feminino foi ofendido e discriminado, precedido de leitura e divulgação da matéria em todos os meios de comunicação públicos e privados de Ilhabela e da região;

• que a Câmara Municipal de Ilhabela, formada por representantes de homens e mulheres do município não extrapole as suas funções institucionais para evitar este tipo de ocorrência.

O abaixo assinado está sendo feito e chegará breve, aos seus destinos.

Vera Alvarenga Freire - verafreire@terra com.br

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