domingo, 22 de maio de 2011

Crônica: Paredes e muros da vergonha

A pequena ave vista na foto, uma rolinha, inocente a toda prova, encontrou seu fim precoce ao chocar-se contra um muro nesta manhã de domingo, 22 de maio de 2011.

O fato aconteceu no Bairro Estrela D’Alva, em Caraguatatuba, cuja rua e número da residência não foram revelados para preservar a identidade do irresponsável proprietário.

A culpada, segundo testemunhas, teria sido a cor do muro, branca, que não é bem distinguida quando os pássaros estão em pleno vôo.

Tanto a cor branca, como a cor gelo, em paredes e muros, e ainda portas envidraçadas e transparentes, segundo as mesmas testemunhas, costumam ser armadilhas mortais para os pássaros que contra eles se chocam com grande violência.

O corpo da pobre rolinha, banhado em sangue, ficou no local, observado por uns poucos curiosos, enquanto que muitos passavam indiferentes pelo local.

Ninguém foi comunicado sobre o fato, nenhuma autoridade foi acionada. Nem bombeiros, nem IML e muito menos a polícia. Jornalistas também não apareceram para cobrir a morte da pequena ave.

O muro assassino não vai sofrer nenhuma sanção e poderá continuar matando impune e indefinidamente. Não há penas para estes casos em nossa codificação, que preserva apenas vidas consideradas “importantes”.

Esquecem-se de que todos fazemos parte de único reino, em que a Vida é dádiva comum a todas as espécies e igualmente importante a cada uma delas.

A avezinha não terá enterro condigno e talvez seu corpo seja ali mesmo devorado, por um gato, um cão faminto, ou pelas formigas e vermes.

A rolinha deixa viúvo o pobre companheiro e um ninho com três ou quatro filhotinhos, que dependiam dela para sobreviver. Por não serem dados à adoção, seu destino é a morte por insuficiência de alimentos.

O cônjuge sobrevivente talvez encontre nova companheira pela frente e constitua outra família. Mas pode ser também que, em lugar de uma nova esposa, encontre um muro ou uma parede branca...
O Blog de Caraguá - k

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