sábado, 2 de julho de 2011

Pesquisa internacional sobre ocorrência da onça pintada na Mata Atlântica engloba todo Litoral Norte Paulista

O desmatamento causado por queimadas é um dos principais agentes de emissões de gases do efeito estufa no Brasil e por isso uma das maiores ameaças ao clima global. Além de poluir, o desmatamento pode ser a causa da morte de animais silvestres que vivem na Mata Atlântica e Costeira.
Onça Pintada
Relatório divulgado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estima que 269 espécies de animais, sendo 88 de aves endêmicas da Mata Atlântica, estão ameaçadas de extinção. Outras espécies podem ter sido extintas sem mesmo terem sido catalogadas. Atualmente há projetos de recuperação de áreas devastadas que visam garantir a saúde da Mata Atlântica. Um deles é o Projeto de Corredores Ecológicos, que objetiva unir as populações isoladas de animais, permitir a sua circulação e facilitar a reprodução. O litoral norte abriga alguns Corredores Ecológicos.
Cotia
E tudo funciona exatamente como se aprende na escola: um ciclo. 
Os animais precisam basicamente de água e ar para sobreviver (características de um ambiente relativamente bom).  Os animais herbívoros necessitam de um bioma saudável para encontrar alimento e os carnívoros precisam destes herbívoros para se alimentar. Seria simples, se o desmatamento não causasse a destruição dos ecossistemas, interrompendo os ciclos naturais.
Saíras, beija-flores, tucanos e tantas
outras espécies passeiam pela mata
Na própria cadeia alimentar, a onça pintada é um predador de topo. E foi pensando em analisar o andamento destes ciclos e a saúde dos biomas, que a ONG americana Panthera preparou um estudo sobre as áreas de ocorrência da onça pintada (Panthera onca). Com o auxílio logístico da ONG brasileira Pró Carnívoros, iniciaram o ano passado uma pesquisa na América Central e do Sul.
Cateto ou porco do mato
Na pesquisa, os biólogos investigaram também a existência de cateto, veado, paca, capivara, anta, cotia, quati, entre outros animais do qual as onças se alimentam. Apesar da presença destes herbívoros aumentarem a probabilidade de ocorrência de onças, eles só existem em locais onde encontram alimento para viver. O litoral norte registra a presença da maioria dessas espécies.
Veado mateiro
Para Érica Maggiorini, responsável pela pesquisa na área de Mata Atlântica e Costeira, as onças precisam de um espaço com cerca de 90km² para viver (o equivalente a 12 estádios de futebol). Teoricamente este é o espaço para que uma onça fêmea e um filhote vivam (com filhote as onças andam menos).
A mata é essencial para a vida dos herbívoros, bem como para a existência das onças. “Se esses animais existem, sabemos que se trata de um ambiente saudável para todos os outros tipos de animais”, ressalta a pesquisadora.
Capivara
O desmatamento diminui drasticamente as áreas de vida das onças e diversos outros animais, causando a redução da fauna em determinadas regiões. “A onça pintada precisa de espaço para viver e suas presas precisam de mata para se alimentar. Tudo é um ciclo. Um ambiente saudável significa que este ciclo está funcionando corretamente”, confirma Anastácia Schrioeder, estudante de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que também acompanha a pesquisa na região da Mata Atlântica e Costeira.
Caraguablog/JFPr

Outras pesquisas
Pesquisas realizadas antes de 2010 definiram as áreas de ocorrência das onças pintadas e seus corredores de ligação. Dentre os estudos, há um que apontou que todas as onças pintadas provêm da mesma espécie, não havendo variação em consequência dos biomas. Isso significava que, mesmo com a degradação do meio ambiente, há conexão e reprodução entre as populações de onças.
“O objetivo da pesquisa atual é descobrir exatamente quais os caminhos que as onças usam e os corredores por onde passam. Desta forma saberemos se as áreas de ocorrência mudaram e em qual situação delas”, explica a pesquisadora Érica Maggiorini.
A pesquisa teve início em abril do ano passado e percorreu a região central no Brasil (São Paulo a Curitiba). Em novembro último, pesquisadoras iniciaram os estudos nas regiões extremas, de norte a sul do país. A pesquisa de campo terminou em março deste ano.
A bióloga e pesquisadora Érica Maggiorini explica que as ONGs decidiram iniciar os estudos pela Mata Atlântica, uma das áreas mais críticas para a onça, porque estão degradadas. No método utilizado para o estudo, as pesquisadoras não entraram na mata, mas se fundamentaram em depoimentos de 15 pessoas que estiveram imersos na mata pelo menos doze vezes no ano (média de uma vez no mês).
Baseadas em áreas pré-definidas (quadrantes de 90km²), referente ao espaço mínimo necessário para sobrevivência de uma onça, Érica Maggiorini questionou os entrevistados sobre o encontro com os animais, tempo de conhecimento, permanência e frequência na área. Eles identificaram rastros por meio de figuras e fotos e contaram experiências de encontro com os animais.
“Os trabalhos científicos são necessários para conhecermos melhor o meio em que vivemos e para definirmos áreas prioritárias de conservação. As pesquisas servem como subsídios para a produção e aprovação de leis favoráveis ao meio ambiente”, esclarece a estudante Anastácia Schrioeder.
Os dados da pesquisa estão com a ONG Panthera. Após análise será iniciada outra pesquisa de campo com uso de câmeras para captar os tamanhos das onças, quantidades de espécies, entre outras questões.
Preocupação desmatamento
Uma das grandes causas de desmatamento em áreas de parques estadual é a ocupação irregular ocasionada pelo crescimento populacional desordenado. A invasão ilegal das áreas de preservação ambiental causa inúmeros prejuízos ao meio ambiente. Os problemas passam pela falta de saneamento básico, formação de depósitos de lixo irregulares, o que acaba contamina os lençóis freáticos e o solo.
A limpeza das áreas para a construção de imóveis também é um problema. Na maioria dos casos trata-se de supressão de vegetação nativa. “A ação do homem sobre o solo pode causar erosão, perda do solo e até deslizamentos em encostas”, explica o engenheiro florestal Vilmar Muller Junior. Se para o homem a devastação das áreas de preservação causa transtornos, para os animais o perigo é a extinção. As espécies endêmicas (aquelas que vivem em uma região específica) correm risco ainda maior. Com a redução de seu espaço natural, os animais ficam sem opção. Eles nascem para viver em determinados ambientes e não se desenvolvem em outros ecossistemas.
“É necessário ordenar o crescimento populacional observando os aspectos legais e ecológicos. Caso a procriação continue desordenada, acabaremos conduzindo as espécies a uma redução muito elevada de sua população ou até mesmo a extinção”, completa o engenheiro florestal Vilmar Muller Júnior.
Para a bióloga Érica Maggiorini, é necessário que o governo invista em contratações de pessoas capacitadas e equipamentos que ajudem a fiscalizar as Áreas de Preservação Permanente (APP). É necessário levar informação e educar a população do entorno dos parques para diminuir as pressões negativas sobre o ambiente.
“Todos os trabalhos com o meio ambiente devem atingir o máximo de pessoas a ponto de perceberem o quão importante é a natureza na nossa vida. Nesta pesquisa com onça-pintada o principal não foi preservar a espécie, mas também o meio ambiente. Quando há população estável de onça-pintada, o restante da floresta também está saudável. Significa água limpa e ar puro, itens básicos para a sobrevivência humana”, finaliza a bióloga.
Mata Atlântica
O engenheiro florestal Vilmar Muller Junior, pós-graduado em Gestão Ambiental e gerente da Formas Planejadas (Formaplan), confirma que restam no Brasil menos de 10% de Mata Atlântica nativa. Dos 232.939 fragmentos florestais acima de três hectares, apenas 18.397 são maiores que cem hectares ou 1km² (a maioria está dividida em pequenas áreas).
“Existem diversos projetos de recuperação da Mata Atlântica que esbarram sempre na urbanização e no não planejamento do espaço, principalmente na região Sudeste”, confirma o engenheiro. Alguns destes projetos de recuperação da mata são desenvolvidos no Litoral Norte paulista.
Caraguablog/JFPr

No último dia 03 de junho, aconteceu a entrega dos prêmios do Concurso São Francisco de Sales e Dom Bosco. Mayara Peixoto foi premiada na categoria estudante com a reportagem: “Pesquisa internacional sobre a onça pintada na Mata Atlântica engloba todo o Litoral Norte Paulista”. Postada acima.

*Mayara Peixoto é formada em Produção Multimídia e especializada em edição de vídeo. Atua nas áreas de assessoria de imprensa, organização de eventos e vídeo. Está cursando o 2º ano de jornalismo e recentemente fundou a MayPress, com sede em Caraguatatuba. É mãe, perfeccionista, viciada em música, filmes e livros.

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